terça-feira, 26 de junho de 2012

CIDADE





Na fundação mítica dessa cidade
em que cemitérios foram inaugurados
antes dos teatros,
estava escrito que estaríamos condenados
a nunca a estrear.

Nossa música não é samba
não é funk, nem chorinho
(apesar do nome apropriado).
Aqui se toca a marcha funesta
das mortes no fogo cruzado.

Essa cidade não tem horizontes
só enxergamos o quintal!
Qualquer batuque de lata
e achamos que é carnaval.

Nada disso tem a ver
com gostar desse lugar.
A sujeira de nossas praias
não tem cheiro no cartão postal.

Nem importa se o que vemos
está realmente lá.
O Corcovado talvez seja
um efeito especial.

Mas nos ufanemos,
é necessário, é preciso:
Maravilhosa!
E sempre será!
Não a critique, que o turista
estrangeiro vai se espantar.

Minha cidade é mãe, madrasta,
irmã, amiga,
amante apaixonada.
Puta descarada!

Às vezes a amo,
outras, a odeio demais.
Somos como o fogo e a água
que se entendem,
mas não devem se tocar.

Um dia talvez a deixe,
pode ser que eu morra aqui.
Mas indo ou ficando,
nunca,
irei realmente partir.

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