quinta-feira, 7 de junho de 2012

TONS DE CINZA



Para que milhões de cores na tela
se só alcanço os tons de cinza?

Como captar matizes tão diversas
se o foco embaçou
e só a imaginação consegue
aquilo o que os sentidos perdem?

Tantos vermelhos!
De sangues, auroras
estrelas de todas as grandezas,
bocas, mordidas, lençóis.

As cores não têm nome
mas um complicada numeração
tecnologia de ponta, caríssima
e alta definição.
E apesar de tudo isso,
eu só alcanço os tons de cinza.

Não são meus olhos, garanto,
talvez seja o meu coração.
Tem algo ver com os medos,
pigmentos na minha ilusão.

Cores, muitas cores,
palhetas sem fim!
De pedras, areias, ventanias.

De animais raros,
ameaçados, extintos.
Penas, couros, peles,
cores dos seus olhos e dentes.

Cores das tatuagens
que te decoram a carne.
Cores de cada encontro
furtivo
e de cada madrugada acordado.

Cores das fantasias e sonhos
dos desfiles de carnaval.

Cores que lembram
as noites mais escuras,
amarelos do sol,
clarões da lua.

Azuis do céu,
verdes do mar,
marrons da terra,
laranjas, vinhos, caramelos.

Rosas de flores e flores rosas
cores de cravos, tulipas, azaléias,
margaridas, íris, hortênsias
orquídeas, girassóis, bromélias.

E ainda das árvores,
das folhas, capins
das sementes,
matos,
raízes, caules,
galhos, cipós.

E há tantos brancos,
tantos brancos!
Como nunca imaginei que existissem!
Como nunca imaginei que pudessem!

Cores luminosas,
translúcidas, pastéis
sólidas, metálicas
quentes, mornas,
frias, gélidas.
Cores de invernos secos,
verões chuvosos,
primaveras.
Cores de outonos e ainda,
cores da morte e da vida.

Mas eu,
só alcanço os tons de cinza.


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