segunda-feira, 3 de setembro de 2012

HÁ CERTAS COISAS QUE SÃO AUTO-EXPLICATIVAS



1996
  
Não é que ele não tenha tentado o suficiente. Apenas não conseguiu. Porque o ser humano não pode lutar o tempo todo contra  aquilo para o qual ele existe. E nossa existência não está condicionada à nossa vontade, mas sim ao nosso desejo, ainda que a maioria das pessoas confundam essas duas coisas.
Na minha convivência com putas vejo inúmeros casos de homens que oferecem e mesmo insistem até que conseguir tirá-las “da vida”. O procedimento é sempre parecido. Montam apartamento,  mandam vir os parentes dela, normalmente a mãe e o filho (se ela tiver, é claro, e quase sempre elas têm). A maioria deles não sossega enquanto não se casa. E para quê? Para depois ter ciúmes da própria sombra. Os mesmos caras que em outras circunstâncias fariam de tudo até desviar alguma mocinha de família ou alguma mulher casada. São esses caras que têm fantasias eróticas com freiras! Alcançar a virtude e corrompê-la é um afrodisíaco maravilhoso. Eu mesmo já provei desse néctar, mas isso não vem ao caso.
Rick tentou ser fiel. E quanto mais ele tentava mais elas se exibiam, se declaravam, se ofereciam. Ele conhecia os truques e se desvencilhava deles com facilidade. Mas por baixo daquela calça havia um membro acostumado à satisfação sem limites e que estava submetido a uma rigorosa dieta monogâmica. Suas partes altas e partes baixas estavam em conflito. E isso o debilitou animicamente. Perdeu a vontade de sair à noite e de viajar nos fins de semana. O sexo com Rebeca, ao invés de melhorar, como era de se esperar, piorou. Mas mesmo assim ele tentou. Até que num início de noite, quando estava quase saindo do escritório, alguém tocou a campainha. Todos os funcionários já tinham saído então ele mesmo foi abrir a porta. Era Inês, uma das melhores amigas de Rebeca desde a faculdade e sócia de sua esposa no consultório.
“Pensei que a sua secretária não iria embora nunca.”
Ele sequer perguntou o que ela estava fazendo ali porque há certas coisas que são auto-explicativas. Já se conheciam há alguns anos e sempre que ficavam a sós, ela deixava claro que um dia eles teriam um caso. Antes que ele pudesse articular uma saída (e ele não estava certo de querer sair), Inês trancou a porta e tirou toda a roupa. Seus atributos eram bem convincentes Mas ao invés de se atirar sobre Rick, dando-lhe a chance de fazer a próxima jogada,  Inês usou uma tática inesperada e covarde. Começou a se tocar, a falar indecências, a aproximar sua mão úmida do nariz dele para que ele pudesse sentir o perfume do seu sexo. Se apresentou em ângulos que a vulgarizavam mas também a potencializavam. Cuspiu na suas mãos e esfregou a saliva nos seios e no rosto. Abriu as nádegas com as mãos, mostrando-lhe o rabo. E ele ali, encostado na sua escrivaninha, pouco a pouco sendo dominado pelos sentidos. Até que mandou seu estoicismo pro inferno, e puxou-a pelo cabelo em sua direção. O que se seguiu é óbvio: sexo no chão, no sofá e na mesa da sala de reuniões. Inês gritando palavrões e Rick voltando à sua realidade.
Assim terminou seu ascético celibato. Mas que ele tentou, tentou.

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